Fotografia: António CunhaFotografia: António Cunha


Identificação do Monumento:

Mesquita Catedral de Idanha-a-Velha

Localização:

Idanha-a-Velha, Castelo Branco, Portugal

Data de construção do monumento:

Embora sobre ruinas anteriores e reutilizando materiais paleocristãos, a sua construção principal poderá datar do século IX (III AH), com remodelações consideráveis no século XVI (X AH)

Período / Dinastia:

Omíada (domínio de Ibn Marwan na região de Idanha)

Encomendado por:

Hipoteticamente pelo clã familiar Ibn Marwan originário da fortaleza de Marvão, de onde provém o seu nome de família. Convertido ao Islão nos primeiros tempos, o fundador desta família e os seus herdeiros parece terem mantido os seus dominios senhoriais nos territórios da Idanha e Marvão durante mais de um século.

Descrição:

Trata-se de um grande edifício de planta basilical. Seguindo as orientações litúrgicas paleocristã ou muçulmana, praticamente coincidentes na Península Iberica, a basílica estaria organizada em sete naves. A nave central destaca-se pela largura, decoração e altura dos arcos axiais. Os 12 arcos, dos catorze existentes inicialmente, são todos em ferradura, numa forma pouco acentuada e característica dos primeiros tempos do Islão ibérico. O hipotético mirhab, no topo leste da nave central, é ocupado por uma capela quadrangular anterior ao programa muçulmano ou adaptado posteriormente.

Durante longos anos este edifício foi considerado como catedral visigótica, pelo facto de ter sido encontrado um baptistério junto da fachada sul e também porque, a partir de inícios do século XVII o altar mor foi desviado para Norte, onde se manteve até aos nossos dias, sugerindo a possibilidade de ter existido anteriormente um espaço litúrgico cristão de três naves.

Estas hipoteses são hoje contestadas porque o baptistério descoberto é notoriamente anterior ao edifício em causa e portanto anexo de uma outra igreja anterior. Por outro lado, é de excluir a existência de quaquer basílica paleocristã com o altar mor virado a Norte.

Excluidas estas hipóteses, e apesar das incongruências, resta-nos enquadar este edifício na campanha de obras que se estendeu a toda a cidade nos séculos IX e X (III-IV AH), quando Idanha a Velha (a antiga Egitânia) desempenhou importante papel histórico de zona de fronteira entre o al Andalus e o Reino de Leão. Dados os constantes acordos e desacordos dos senhores locais da família Ibn Marwan al Jiliqui, ora com Cordova, ora com Leão, não é de excluir que este espaço religioso sofresse uma variação de programas e mesmo fosse o resultado de um certo sincretismo que os seus donatários sempre procuraram ao tentar defender a sua independência.

Ressalvando as devidas proporções, o modelo seguido parece ter sido a grande mesquita Omeiade de Damasco com uma grande nave central e duas colaterais em que o mihrab ocupa o centro da colateral, a quibla, orientada a Meca. Se admitirmos, enfim para a basilica da Idanha, ser a parede Sudeste a qibla de uma mesquita, a volumetria anormal do edifício começa a tornar-se menos enigmática.

Recordemos que o cronista Ibn Hayyan considerava Ibn Marwan al Jiliqui "aliado do diabo e germe do erro". O programa desta mesquita apenas se justifica em época daquele rebelde muladi – finais do século IX (III AH). Para uma atribuição cronológica podemos recorrer a alguns elementos que nos parecem significativos, embora o mais evidente seja o paralelismo das técnicas construtivas da mesquita de Idanha com a Igreja de Lourosa, a pouco mais de 70 quilómetros de distância e que está datada por uma inscrição de 912 (299 AH).

Os investigadores Manuel Real e António Rei, embora não concordem com esta atribuição de funções, estabelecem também comparação com a planta de algumas mesquitas e aceitam a cronologia proposta.

View Short Description

Edifício de planta basilical, a chamada catedral de Idanha-a-Velha foi, durante muito tempo, enquadrada no período visigótico. Uma proposta formulada recentemente, com base em tipologias arquitectónicas, sustenta que o edifício foi uma mesquita e atribui a sua construção ao período islâmico (em volta do reinado de Ibn Marwan al-Jilliqi – séculos III/IV H. – IX/X d.C.).
Embora a funcionalidade do monumento continue a ser discutida, é unânime (e tendo em conta os paralelos com a bem datada igreja de S. Pedro de Lourosa) a atribuição da sua cronologia à época marwanida.

Como foi estabelecida a datação:

Pela forma dos arcos em ferradura e pelo aparelho de silharia tipológicamente próximo da igreja de Lourosa, datada de inícios do século X (séc. IV AH).

Bibliografia seleccionada:

Almeida, F. de, Egitânia história e arqueologia, Lisboa, 1956;

Almeida, F. de, História da Arte em Portugal, vol. 2, Lisboa, 1986, pp. 43-46.

Hayyan, Ibn, Crónica del califa 'Abderrahman III al-Nasir entre los años 912 y 942 (al-Muqtabis V), Madrid, 1981, p. 187.

Real, M. L., “Inovação e resistência: dados recentes sobre a antiguidade tardia no Ocidente peninsular”, IV Reunião de Arqueologia Cristã Hispânica, Barcelona, 1995, pp. 66-67.

Torres, C., “A Sé-Catedral da Idanha”, Arqueologia Medieval, nº 1, Porto, 1992, pp. 169-178.

Citation:

Cláudio Torres "Mesquita Catedral de Idanha-a-Velha" in "Discover Islamic Art", Museum With No Frontiers, 2024. 2024. https://islamicart.museumwnf.org/database_item.php?id=monument;ISL;pt;Mon01;5;pt

Autoria da ficha: Cláudio Torres

Número interno MWNF: PT F

RELATED CONTENT

 Artistic Introduction

 Timeline for this item


Download

As PDF (including images) As Word (text only)